DESINFETANTES COM EFEITO RESIDUAL OU DESINFETANTES COM EFEITO BACTERIOSTÁTICO.
Existe muita discussão polêmica a respeito da função “bacteriostática” de desinfetantes para superfícies fixas, tentando dar maior clareza ao termo utilizado apresentaremos o que segue.
Em medicina:
Antibiótico bactericida, mais conhecido como simplesmente antibiótico é qualquer medicamento capaz de combater uma infecção causada por microrganismos que causam infecções a outro organismo e tem efeito mortífero sobre bactérias.
Um antibiótico bacteriostático é um tipo de antibiótico, um produto farmacêutico que tem como princípio terapêutico impedir a proliferação dos microrganismos, interrompe a reprodução ou inibe o metabolismo de bactérias.
Aqui podemos encontrar bem definidas as funções ” bactericida” e “bacteriostática”, inclusive independentes um do outro.
Poderíamos utilizar um bactericida como bacteriostático?
A resposta poderia ser sim, entretanto os bactericidas são geralmente bastante seletivos e potentes, estes compostos farmacêuticos são xenobióticos, ou seja são compostos químicos estranhos ao organismo humano e, como tal, sempre apresentam efeitos colaterais ou tóxicos, que devem ser evitados sempre que suas consequências prejudiciais forem maiores que seus benefícios, os antibióticos bacteriostáticos são geralmente indicados para deter o crescimento de determinadas bactérias, dificultando sua proliferação, com menor efeito colateral, deixando ao sistema imunológico a tarefa de eliminar as bactérias que já estão presentes no organismo.
Em nosso caso, na química de produtos saneantes:
O termo “bacteriostático” em produtos saneantes, foi importado da linguagem utilizada na medicina, é uma adaptação para exprimir o termo “ação com efeito residual”.
Podemos questionar: Quando a ação com efeito residual (ou simplesmente chamado “bacteriostático”) ocorre, ou está presente?
A resposta de forma simplificada, porém não única, pode ser: Sempre que o agente desinfetante ativo permanecer no local tratado, sem modificação ou degradação.
Exemplos de desinfetantes sem ação com efeito residual:
a) Solução contendo Peróxido de Hidrogênio:
O agente ativo neste produto é o oxigênio nascente proveniente da decomposição do Peróxido de Hidrogênio (popularmente chamado água oxigenada)
2 H2O2 ==> 2 H2O + 2 <O>
(Peróxido de Hidrogênio) ==> (Água) + (oxigênio nascente)
Ou seja, após sua decomposição, que se dá quase imediatamente após sua aplicação, restará somente água e outros resíduos presentes na solução com finalidade de melhorar sua ação ou estabilizá-la enquanto na embalagem.
b) Solução de hipoclorito de sódio.
Esta solução pode desprender gás cloro, entretanto pode parecer estranho a muitos, mas o agente ativo neste produto é o oxigênio nascente proveniente da decomposição do hipoclorito de sódio, na reação abaixo descrita, que ocorre em duas etapas.
3 NaClO ==> 2 NaCl + NaClO
(Hipoclorito de Sódio) ==> (Cloreto de Sódio) + (Clorato de Sódio)
A decomposição do Clorato de sódio então ocorre gerando oxigênio:
2 NaClO ==> 2 NaCl + <O>
(Clorato de Sódio) == (Cloreto de Sódio) + (oxigênio nascente)
Ou seja, após sua decomposição, que se dá quase imediatamente após sua aplicação, restará somente o Cloreto de Sódio (sal de cozinha) e outros resíduos presentes na solução com finalidade de estabilizá-la enquanto na embalagem, estes estabilizantes são geralmente alcalinos e aumentam o potencial corrosivo deste produto.
NOTA: Nos dois exemplos o oxigênio nascente é um dos mais poderosos oxidantes encontrados na natureza, oxida quase todos os materiais, sejam minerais ou orgânicos, portanto, ao ter contato com bactérias, fungos ou vírus tem um forte efeito destruidor sobre estes, bem como tudo ao seu alcance, como metais, minerais, etc.
Exemplos de desinfetantes com ação com efeito residual (ou bacteriostático):
a) Soluções a base de quaternários de amônea.
b) Soluções a base de biguanida.
Os agentes ativos bactericidas presente nos dois casos são as próprias moléculas correspondentes ao quaternário de amônea ou a biguanida, estas possuem a capacidade de, através de processos físico-químicos relativamente complexos, causar destruição celular no caso de bactérias e fungos e em vírus na degradação de proteínas, lipídios e ácidos nucléicos.
Ou seja, nos dois casos continuaremos a ter, sobre as superfícies aplicadas, as mesmas moléculas inalteradas, sem degradação, mantendo suas propriedades originais preservadas, formando como que um filme de proteção.
A degradação destas moléculas somente ocorrerá de forma lenta e em situações muito especiais comumente não encontradas como o alto aquecimento ou exposição a raios UV.
Para que fique claro faremos analogia a um exército amigo (as moléculas desinfetantes) e um exército inimigo (os germes).
O exército amigo ataca exército inimigo, aniquila o exército inimigo, permanece no campo de batalha com suas armas intactas, outro exército inimigo vai chegar, geralmente em menor número que o anterior, ele se instala novamente no terreno conquistado?
Pois bem, é a isto que chamamos “ação com efeito residual” ou simplesmente “bacteriostático”.
Atenção: Por razões físicas agindo sobre as superfícies desinfetadas a garantia oferecida pelo efeito bacteriostático nunca poderá ser 100% seguro, mas sempre mais seguro dentro de determinados intervalos, ou seja, estatisticamente haverá uma redução sensível em contaminações microbiológicas.
A CARACTERÍSTICA (EFEITO RESIDUAL DO DESINFETANTE) NÃO DISPENSA NOVAS APLICAÇÕES DENTRO DE INTERVALOS PRÉ DETERMINADOS EM FUNÇÃO DO TRÂNSITO DO LOCAL, SOMENTE AUMENTA A SEGURANÇA ENTRE TAIS INTERVALOS.
Caso deseje, o convido a ler a Nota Técnica emitida pelo Conselho Regional de Química de São Paulo sobre este assunto.
Notícia – Conselho Regional de Química – IV Região (crq4.org.br)